Por João Dehon Fonseca
Bem aventurados aqueles que não precisam bajular autoridades para serem felizes. Bajular é tentar agradar ou enaltecer de forma exagerada, servil, para cair nas graças ou obter favores do bajulado. Talvez essa seja uma das atividades humanas mais antigas, que resiste ao tempo. Nas escrituras bíblicas, nas história da mitológicas, nos escritos filosóficos, na literatura, no teatro sempre a figura do bajulador aparece, destacada ou não.
Na Paraíba os bajuladores aparecem com mais freqüência a cada período eleitoral. Alguns surgem bem antes, para pavimentar o terreno para as eleições. Fazem de um tudo para parecer íntimo das autoridades que estão no poder. Não resistem ao menor sinal e já se deixam humilhar. Estendem tapetes vermelhos, limpam o chão com o próprio lenço para não deixar o bajulado pisar em sujeira. Pisam na casca de banana antes da autoridade e caem esparramados para mostrar que estão a pleno sérviço do patrão ou superior.
Na semana passada ouvi uma história hilária de um bajulador desses que aparecem em período pré-eleitoral. Dizia o ‘historiador’ que ele, o bajulador, era um subordinado de um prefeito, que fazia tudo para agradá-lo. O gestor, vendo a submissão do subordinado, passou a ordenar que amarrasse o cadaço de seus sapatos. Na primeira vez, foi puro acaso. O cadaço, não se sabe como, estava mesmo desamarrado e incomodando o prefeito, que pediu gentilmente ao empregado o que corrigisse a falha.
Vendo o grau de submissão, o político passou a deixar de amarrar, propositalmente, os cadaços do sapato para ver a reação do coitado. Nos primeiros dias, o político precisava olhar para ele e fazer um sinal com a cabeça e um olhar para os pés. A partir do terceiro dia, nem isso precisou mais. “O submisso avisava: ‘Senhor, seus cadaços estão a incomodá-lo; permita-me que eu os corrija”, dizia, num misto de exclamação e interrogação. E quando se abaixava para fazer o serviço, o gestor, sem que ele percebesse, se divertia com os outros empregados ao redor.
Em um desses artigos que aqui li, na semana passada, lembrei-me da história recente que me haviam contado. O cara que escreveu a matéria a fez com tanta bajulação que tenho certeza que o bajulado se sentiu o homem mais importante do mundo, A matéria desde o seu inicio foi de um descabimento sem igual. A relação de submissão foi de dar pena. Nem os escravos ou os capatazes do antigo regime que sucumbiu com o feudalismo ousariam tanto. Digno dos lambe-botas.
Tudo que escreveu na tentativa de influenciar o que ele considera como pessoas fracas de espírito, não passou de bobagem, coisas sem lógicas e ao me encontrar com um dos leitores desse site ele comentou, ao meu lado, o comportamento servil do humilhado. Riu como uma criança do bom palhaço. E comentou: “como ele consegue ser tão puxa-saco?”
Mas o bajulador, quando chega a esse estágio, já está mergulhado em privilégios que jamais teria se dependesse apenas do suor do rosto. Não consegue mais recuar. A bajulação passa a ser a única alternativa que ele consegue vislumbrar. Ele pensa: ou eu faço isso, ou serei humilhado. Não percebe que a humilhação é sua rotina.
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