
Senadores e deputados federais da PB gastaram R$ 3,2 milhões com a verba indenizatória de fevereiro a outubro
“Tem gente que joga pão velho, frutas que já não estão muito boas e comida mesmo, feijão e arroz. Quando não estão muito estragados eu levo para casa e a gente come. Não é muito bom, mas como nem sempre a gente tem o que comer, então tem que aproveitar para não morrer de fome. É triste ver meus filhos comer restos encontrados no lixo, mas infelizmente a vida não me deu outra escolha”, relatou de forma amargurada o catador.
Financeiramente o trabalho de catador de lixo também não rende muito para o personagem que preferiu ter sua identidade preservada e, por este motivo, está sendo chamado de Antônio Pereira. Por semana ele adquire apenas R$ 20 ou R$ 30, o suficiente para viver numa casa extremamente simples e sem a menor condição de higiene. As panelas, na maioria das vezes vazias, também foram conseguidas no lixo, assim como as roupas dos filhos de 13, 11, 9 e 8 anos de idade.
O dia-a-dia cruel e sofrido faz com que ‘esperança’ seja uma palavra inexistente no dicionário de Antônio Pereira. “Esperança? Esperança de quê minha filha? Você acha que uma pessoa na minha idade e com a vida que levo pode achar que ainda existe esperança? Esperar agora somente pela morte mesmo!”, desabafa de forma dura e triste o catador.
Do mesmo lado da realidade cruel de Antônio Pereira estão mais de 600 mil paraibanos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda per capita de 613.781 mil pessoas na Paraíba é de apenas R$ 70 por mês.
Desse total de paraibanos que vivem com essa renda, 330 mil estão na zona urbana e 284 mil na zona rural. Precisam sobreviver com R$ 70 mensais 309 mil mulheres e 304 mil homens. Os dados são do censo 2010 feito pelo IBGE.
Com apenas R$ 70, esses paraibanos não conseguem sequer comprar uma cesta básica que, de acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), alcançou o valor de R$ 195,14, em João Pessoa, no mês de outubro.
Sendo assim, os direitos sociais previstos no Artigo 6º da Constituição Federal que diz: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”, não estão sendo garantidos para essas pessoas.
Realidades diferentes, gastos desproporcionais
A dura e triste realidade de Antônio Pereira e de todos os paraibanos que são obrigados a viver com apenas R$ 70 por mês é completamente diferente dos 15 parlamentares da Paraíba que ocupam cadeiras no Senado e Câmara Federal. Enquanto ele cata lixo nas ruas, deputados e senadores têm carta branca para gastar o que quiserem com divulgação da atividade parlamentar, telefonia, serviços postais, hospedagem, etc.
Com salários vultosos de R$ 26,7 mil por mês os três senadores e 12 deputados federais da Paraíba ainda contam com a “singela ajuda” da verba indenizatória para gastos extras. O deputado federal Wellington Roberto (PR), por exemplo, chegou a gastar quase R$ 70 mil somente no mês de agosto com a cota. Unido ao salário, portanto, o parlamentar lucrou, no oitavo mês do ano, o montante de quase R$ 100 mil.
E os parlamentares não se fazem nem um pouco de rogados na hora de utilizar a verba. De fevereiro de 2011, quando assumiram o novo mandato, até o último mês de outubro, os 15 parlamentares paraibanos (senadores e deputados federais) gastaram mais de R$ 3,2 milhões (R$ 3.217.089 milhões) somente com o cotão. Uma média de mais de R$ 357.454 mil por mês em gastos apenas com a verba indenizatória, além do salário.
Dividindo esse total mensal podemos afirmar que cada parlamentar paraibano lucra, por mês, uma média de R$ 23.830 mil somente com o cotão podendo deixar livre para outras despesas os R$ 26,7 mil de salário que ganham mensalmente.
Significa que em nove meses de atuação cada um dos três senadores e 12 deputados federais paraibanos que ocupam cadeira no Congresso Nacional ‘embolsaram’ uma média de R$ 214.472 mil somente com a verba indenizatória.
Os gastos
Numa matemática simples podemos afirmar que os 15 parlamentares paraibanos que ocupam cadeira no Congresso Nacional ganham, por mês, 33.942% a mais que os 613,7 mil paraibanos que são obrigados a conviver com a extrema pobreza que gera fome, falta de educação, moradia, saúde, segurança e lazer. Uma realidade que não pertence aos deputados federais e senadores que andam de jatinho, mantém os filhos nas melhores escolas e se deliciam com os melhores pratos nos restaurantes mais renomados.
Entre os três senadores o que mais ‘lucrou’ com o cotão foi o agora ex-senador Wilson Santiago (PMDB). Nos nove meses em que o peemedebista permaneceu no Senado Federal ele usou R$ 253.538 mil da verba indenizatória. O mês em que ele mais gastou com o cotão foi junho, R$ 63.266 mil.
Cícero Lucena (PSDB) ‘lucrou’ R$ 195.203 mil com o cotão, de fevereiro a outubro. Já Vital do Rêgo Filho (PMDB) chegou ao montante de R$ 138.427 mil.
Entre os deputados federais Wellington Roberto (PR) foi o que mais aproveitou com o cotão. O parlamentar gastou a quantia de R$ 278.613 mil, de fevereiro a outubro. O segundo que mais gastou foi Manoel Júnior (PMDB) que alcançou o montante de R$ 274.097 mil no mesmo período. E o terceiro colocado foi Efraim Morais (DEM) com a quantia de R$ 262.975 mil em gastos com o cotão.
Por ordem alfabética os gastos dos deputados federais com a verba indenizatória, de fevereiro a outubro, ficaram assim:
Aguinaldo Ribeiro (PP) – R$ 114.537 mil
Benjamim Maranhão (PMDB) – R$ 189.824 mil
Damião Feliciano (PDT) – R$ 201.754 mil
Efraim Morais (DEM) – R$ 262.975 mil
Hugo Motta (PMDB) – R$ 249.365 mil
Luiz Couto (PT) – R$ 207.708 mil
Manoel Júnior (PMDB) – R$ 274.097 mil
Nilda Gondim (PMDB) – R$ 191.550 mil
Romero Rodrigues (PSDB) – R$ 219.200 mil
Ruy Carneiro (PSDB) – R$ 248.948 mil
Wellington Roberto (PR) – R$ 278.613 mil
Wilson Filho (PMDB) – R$ 191.350 mil
O cotão
A cota para exercício da atividade parlamentar é uma verba destinada pela Câmara e Senado para reembolsar os deputados por gastos decorrentes de seu trabalho. Inclui 12 categorias de gastos, de telefonia e alimentação a aluguel de carros e divulgação.
Nice Almeida
PolíticaPB
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