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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Como escolher o seu vereador?



Dicas de especialistas podem ser usadas como uma lupa para ver de perto as diferenças entre os candidatos

Nomes, rostos, números e vozes se sucedem no horário eleitoral no Rádio. São dezenas de pessoas tentando convencer o eleitor de que é a melhor opção para a Câmara de Vereadores. Alguns apresentam propostas, outros confiam na própria popularidade. Aqueles que tentam a reeleição citam projetos aprovados. Os que querem ser eleitos pela primeira vez defendem a "renovação". Mas como, entre tantas opções, fazer uma boa escolha?

Uma pesquisa da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), feita em junho e julho, mostra que 76% dos entrevistados escolhem o candidato mais pela pessoa do que pelo partido. Quanto aos critérios, 73% consideraram "muito importante" as propostas do candidato, 59% destacaram os benefícios para o bairro e 57% valorizam a experiência do candidato.

Em meio a tantos nomes e promessas, talvez fique mais fácil primeiro definir um perfil para depois buscar um nome que se encaixe nele. Nesta reportagem, vamos ajudar você a definir o que observar antes de escolher o seu  candidato.

Foram entrevistados especialistas das áreas das ciências políticas, história e direito, além do diretor da Transparência Brasil, Cláudio Abramo, que acompanha de perto o legislativo brasileiro. Se você ainda está em dúvida ou quer testar a eficiência do seu candidato, confira as dicas.

Histórico

Para os especialistas, é importante o eleitor conhecer a trajetória do candidato. O diretor-executivo da Transparência Brasil, Cláudio Abramo, acredita que o eleitor deve buscar informações sobre o candidato, o que muitas vezes não é tão simples, já que a maior parte dos dados são aqueles apresentados pelos próprios candidatos. Já o professor de ciências sociais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Flávio Ramos, destaca que a partir do histórico o eleitor pode-se avaliar se o candidato tem condições de representar a comunidade. "O ideal é conhecer a vida pregressa, para saber se o candidato pode ser um bom vereador ou está mais interessado em promoção pessoal e vantagens econômicas. Não pode ser ninguém corrupto ou que tenha manchas na sua vida pública. E tem de procurar saber se a pessoa realiza algum trabalho social, pois o candidato pode até ser uma pessoa honesta, mas sem perfil de liderança comunitária", sugere o professor do departamento de história da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Waldir Rampinelli.

Perfil

É interessante que o candidato tenha um perfil compatível com a atuação que se espera dele na Câmara de Vereadores. "Um vereador deve ser alguém que conheça a comunidade que pretende representar e que tenha capacidade de diálogo com a sociedade. Alguém que tenha trânsito e saiba ouvir as organizações da sociedade civil", opina o coordenador dos cursos de ciência política e ciências sociais da Univali, Ivann Carlos Lago.

Para o professor do departamento de sociologia e ciência política da UFSC, Erni Seibel, o candidato precisa saber avaliar as políticas públicas. "Desconfio de políticos que se apresentam com qualidades privadas (sou religioso, não sou corrupto, sou pai de família) para um cargo que é público. Ser vereador requer qualidades públicas como liderança comunitária ou de categorias profissionais. Porque pode ser uma pessoa simples, de comunidade mais empobrecida, isso não importa. Se ela é uma pessoa pública, revelou moral e características públicas, já que expressa o desejo de uma região ou de uma categoria", assinala Seibel.

Nova mentalidade

O professor de direito da Univali, Jonas Modesto de Abreu, diz que é interessante que o eleitor procure por candidatos que expressem uma mentalidade política nova. "O candidato precisa representar uma cultura política diferenciada, que rompa com a tradição de ver o voto como uma relação de compra ou troca - o que ainda ocorre com muita freqüência."

Abreu afirma que é importante valorizar candidatos que tentam conscientizar o eleitor de que o voto representa uma forma de mudar a vida das pessoas (e não apenas a vida da própria pessoa). "Muitos avaliam o histórico de serviços prestados por determinados políticos, mas acho que isso não vale tanto. Acredito mais naqueles que apresentam uma nova forma de fazer política, um novo perfil de representante, uma nova cultura política mais cidadã".

Conhecimento

Também se espera que o candidato tenha o mínimo de conhecimento do funcionamento do Legislativo municipal. Ivann Carlos Lago, coordenador dos cursos de ciência política e ciências sociais da Univali, acredita que o candidato precisa ter informações sobre o processo legislativo, saiba como elaborar um projeto de lei e fazer projeções das conseqüências que os projetos vão gerar para a sociedade. "Ele precisa ter clareza que o papel do vereador é de fiscalizar o Executivo", destaca.

Para Eduardo Guerini, professor de ciência política da Univali, o vereador não tem superpoderes. "Ele está vinculado a um controle público. Por isso, deve conhecer bem seu papel, que é o de fiscalizar o Executivo, analisar a gestão pública e fazer propostas para satisfazer os anseios da sociedade."

O professor do departamento de sociologia e ciência política da UFSC, Erni Seibel, defende que os vereadores deveriam ter conhecimentos mais elaborados dos problemas da cidade. "Uma qualificação no sentido de informação e dados, seja da cidade ou de áreas específicas como saúde e educação. Mas informações que expressem o município e não apenas situações pontuais, que são típicas do clientelismo."

Fidelidade partidária

Outro ponto central é a fidelidade partidária. Segundo os pesquisadores, o eleitor deve observar os políticos que trocam de partido a cada eleição. "Acredito que a população deve estar atenta àqueles que alteram de legenda a cada legislatura, pois estes não são confiáveis. Um político tem de ter uma história partidária. Como confiar em um candidato sem vínculos partidários, já que isto mostra que ele representa mais a si mesmo do que a sociedade?", assinala o professor de ciência política da Univali, Eduardo Guerini. O professor de ciências sociais da Univali, Flávio Ramos, também diz que é importante vincular o nome do candidato ao partido político. De acordo com ele, o candidato pertence a um partido, que tem um programa e um projeto de ação política. "O voto único e exclusivamente na pessoa é equivocado, porque na realidade o eleitor está votando em um partido (legenda). Assim, o candidato que troca de partido várias vezes demonstra oportunismo e nenhum compromisso com o ideal partidário", acrescenta.

Ignorância ou demagogia

Também é necessário analisar as propostas apresentadas. Existem políticos que fazem promessas que sequer têm relação com as atribuições de um vereador. Para os pesquisadores entrevistados, esta atitude demonstra falta de conhecimento do Legislativo ou demagogia. A professora de sociologia e história do Bom Jesus/Ielusc, Valdete Daufemback, diz que o eleitor precisa avaliar que benefícios as propostas trarão para a sociedade. "Praticamente não se vê propostas sérias. Há muita banalidade. A impressão é que as promessas viraram marketing puro, como se estivessem vendendo um produto qualquer", critica. O coordenador do Instituto de Pesquisas Sociais da Univali, Sérgio Saturnino Januário, destaca que as promessas devem ter pé no chão. "A gente ouve uma série de projetos mirabolantes e, se for colocar em prática todas as soluções propostas, não há cidade que chegue. Há candidatos que chegam a prometer a construção de casas, quando isso não é de competência do Legislativo. O máximo que um vereador pode fazer neste sentido é apresentar projetos que viabilizem verbas para a construção".

Transparência Brasil com algumas alterações de OBlogdePianco/Imagem Ilustrativa de Internet


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