Angeli
Sob Dilma Rousseff, o governo trabalha com a perspectiva de enfrentar, na economia, um segundo ano mais difícil do que o primeiro.
Em conversa com o repórter, na noite desta sexta (5), um ministro de Dilma disse: a conjuntura aponta para um recrudescimento do aperto fiscal, com juros altos.
Afirmou que a política de cintos apertados para 2012 já vinha sendo tratada como favas contadas. Solidificou-se com o agravamento da crise nos EUA e na Europa.
Esclareceu que, na hipótese de repetição de um cenário internacional parecido com o de 2008, forçará o governo a “sofisticar” sua estratégia econômica.
Nas palavras do ministro, será necessário “assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, combinando estímulos à atividade econômica com rigor fiscal e monetário.”
Realçou que o próximo ano começa com um complicador imutável: em janeiro de 2012, o salário mínimo terá reajuste de pelo menos 14%.
Fruto da política de recuperação do mínimo inaugurada sob Lula e convertida em lei no início da gestão Dilma.
Atrelou-se o mínimo –pago a metade da população economicamente ativa e a 8 milhões de aposentados— à inflação passada e à variação do PIB de dois anos anteriores.
Embora festejada pelos sindicatos e pelo próprio governo, a indexação que assegura aumentos reais ao mínimo tem efeitos inflacionários.
O tônico salarial servido a esse contingente de trabalhadores e pensionistas do INSS, disse o ministro, é bom por um lado e ruim por outro.
Bom porque mantém vivo o mercado interno de consumo popular. Ruim porque pressiona o IPCA, índice oficial de inflação. Sobretudo no item relativo aos serviços.
Ecoando o ministro Guido Mantega (Fazenda) e Dilma, o interlocutor do repórter recitou a tese de que o Brasil está preparado para lidar com uma nova crise global.
A ideia é adotar fórmula inversa à que vem sendo insinuada pelos EUA. Como assim?
Washington corta os gastos públicos embalado pela “esperança vã” de que a iniciativa privada irá prover sozinha os investimentos necessários à reativação da economia.
Brasília trabalha com a hipótese de reeditar, se necessário, providências adotadas no enfrentamento da crise de 2008. Entre garantia de crédito e medidas tributárias.
Na prática, disse o ministro, o governo brasileiro já sinalizou suas intenções ao lançar, nesta semana, medidas de estímulo à indústria baseadas em incentivos fiscais.
A perda de receita impõe o manuseio da tesoura. Daí a previsão de um 2012 de absoluto rigor fiscal. Eventuais gorduras no custeio da máquina irão “ao osso”.
Qual será o tamanho do talho? É cedo para dizer, esquivou-se o ministro. Disse apenas que, afora os investimentos sociais e em infraestrutura, nenhuma rubrica está a salvo.
Nem as emendas de parlamentares? “Infelizmente, não.”
Dilma não abre mão de entregar um PIB de pelo menos 4% no ano que vem.
Por isso, pretende-se manter em 2012 a tática que condiciona a meta de juros à manutenção dos sinais vitais da atividade econômica.
Nesta sexta, o IBGE informou que o IPCA de julho foi de 0,16%. Manteve-se estável em relação ao índice de junho: 0,15%.
O problema reside na taxa acumulada dos últimos 12 meses: 6,87%. Ainda acima do teto da meta anual de inflação, que é de 6,5%.
O governo alega que não abandonou o objetivo de trazer o índice para as cercanias do centro da meta (4,5%). Mas não o fará em velocidade que leve a economia ao freezer.
Significa dizer que as taxas de juros permanecerão altas o bastante para segurar a inflação, mas em patamares que não derrubem o crescimento abaixo dos 4%.
De resto, constam do arsenal que o governo alega ter à disposição medidas de proteção contra a invasão de produtos estrangeiros e a “enxurrada” de dólares.
Que providências são essas? Não são coisas que possam ser anunciadas com antecedência, esquivou-se, de novo, a autoridade que falou ao blog.
Limitou-se a declarar que o governo já deu demonstrações de que não ficará inerte.
Citou a medida provisória que instituiu o IOF de 1% para os derivativos de câmbio (posições vendidas no mercado futuro).
Josias de souza
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